Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Pelas minhas viagens, de aqui e de ali vou-me perdendo com a certeza de que no fim da linha me encontrarei. Para quem gosta de aventuras e enigmas pode perder-se e encontrar-se por aqui
Está um calor desgraçado.
Tenho uma série de peripécias para partilhar... mas não consigo. O meu pensamento está preso ao calor e a outras tantas vontades estranhas e limitações absurdas.
O sono, o cansaço, o barulho dos geradores, o cérebro imparável que nem traz nada de novo. A ansiedade, enfim.Verdadeiros obstáculos.
Queria expurgar mas não consigo.
Soube da morte de André Mingas, estava a preparar-me para dormir.
Trazia o sono do dia inteiro e estava a fazer um esforço extra porque tinha marcado uma conversa com uma amiga, via skype.
Entrei em casa a arrasta-me. O sono tomava conta de mim. Esperei até a amiga chegar e quando nos despedíamos gritei: morreu o André Mingas!!!
O espanto devia-se a dois motivos: por um lado era o choque de saber que uma pessoa que cantou para mim na infância desaparecia hoje.
Por outro previa várias horas de trabalho, a recolher informação e a publicá-la, para fazer primeiro ou fazer melhor.
A verdade é que o trabalho nunca acaba. E amanhã será a saga por causa deste infortúnio.
Interrompi o trabalho para ir até à cozinha e senti o tremor do chão.
Não, não se trata de tremor de terra, mas do vibrar do prédio com a força do trabalho dos geradores incansáveis. Olhei para o chão e pensei no óbvio: vou ficar sem luz bem antes de conseguir publicar mais qualquer update que seja.
Mas alguém andou a mexer os pauzinhos e posso agradecer:
Ainda ter combustível no gerador, para ter tudo pronto em tempo útil, inclusive o meu post de hoje
Ao bom senso de ter vindo para casa
À insitência da amiga para conversar comigo, só assim pude manter-me acordada
À magia das redes sociais que fazem tudo correr mais rápido
Luanda hoje, apesar dos pesares, deixou-me trabalhar!
Obrigada!
deixo-me ficar com "o que eu quero" mesmo que saiba apenas o que não quero. Conjuga bem, tem sido o tema das nossas conversas
Em Luanda estamos sempre a aprender.
Hoje houve quem comentasse no meu FB que sentira falta do meu olhar clínico.
No fundo todos vemos e até nos damos conta, só não queremos ter trabalho a registar.
Eu gosto deste trabalho de registar. De espicaçar. Dá-me a boa sensação de que os astros estão todos alinhados e encontram-se sempre que podem.
Sinto-me a lua a observar.
Hoje em particular gostei da analogia da vaca púrpura do apresentador da Superbrands:
Hoje acordei às 6h da manhã. Estava sol como se fossem 10h. Parece que é o primeiro dia de verão, apesar do cacimbo já se ter despedido há algum tempo.
Por incrível que pareça não ouvi o alarme do “how I met your mother”, que tocou já deviam ser umas 7h e qualquer coisa.
Foi uma manhã diferente nesta Luanda. Saí do banho a correr quando ouvi que Steve Jobs tinha morrido, vítima de cancro.
Activei o MacBook, senti-me da família e postei no meu FB.
Voltei ao banho e à rotina normal.
Pronta para o pequeno-almoço fiz algo que em Angola é raro fazer. Comi a olhar para a TV e para o Mac.
Consultei o email pessoal e fiz algo ainda mais inédito. Respondi ao jornal de uma amiga. Foi de facto um momento de qualidade de vida. Não pensei no trânsito. Não quis saber se ia sofrer com a embraiagem e deixei-me levar.
Respondi ao jornal com um jornal e soube bem.
Quando saí de casa sorri. Tinha luz, o sol estava alto e não apanhei trânsito mas ia tendo um acidente ao tirar o carro.
Durante o caminho abri as janelas e vim fazendo caretas para ter prioridade.
Aqui não há regras de prioridade. Aliás, elas existem, mas a maior parte delas são ignoradas e até mesmo desconhecidas.
Quem sabe o que é uma cedência de passagem, prioridade à direita, cruzamentos, stops. Ninguém sabe e quem sabe facilmente se esquece. Funcionam melhor as caretas ou os sorrisos.
No final da noite recebi um prémio... voltei para casa com uma única moral da história: os sorrisos dão prioridade.
Quando começo a escrever nunca sei bem que título dar aos posts ou às histórias. Depois há dias mais fáceis e outros bem mais complicados.
Ontem foi um desses dias. Coisas simples tornaram-se complicadas, o que em Luanda não é complicado, passo a redundância.
Da viagem a Viana que demorou duas horas, entre solavancos e ondas de poeira, à ida ao terraço ao final do dia para ver como funciona um gerador, encerra-se o dia com a sensação de que absolutamente nada positivo nos beijou a face.
Acordei ainda não eram horas de me levantar.
Não tinha luz, porque alguém esperou pelo IBAN da EDEL para fazer uma transferência e pagar a conta. Mas é bem possível que a EDEL não tenha esse serviço disponível ao cliente. Uma vez que a conta não foi paga fomos notificadas de que nos cortariam a luz.
Corte e notificação vieram no mesmo dia. Senão, com um intervalo muito curto de tempo.
Não tinha luz desde Domingo. O gerador não tinha aguentado o micro-ondas, o ar condicionado, a televisão, o frigorífico...
Tive direito a todos os banhos de água fria, com a alegria de que pelo menos sem luz a electro bomba não deixa de funcionar. Não me perguntem como.
Enquanto me irritava com a falta de luz, alimentos no frigorífico foram estragando. Eliminar cada um consoante o que estaria a cheirar mal foi a missão. Só hoje consegui descobrir a maior fonte do mau cheiro e vou ter que lidar com ela toda a noite!
Saí de casa e ainda tive que esperar por um colega. Fazer o caminho desagradável até Viana e perceber várias vezes que estávamos no caminho errado.
Já não houve oportunidade para almoçar. Infelizmente não se encontram estabelecimentos que sirvam sopas ou refeições rápidas. Senti falta do McDonald's, mesmo sabendo que não lhe poderia tocar.
Fechei a tarde entre telefonemas ao senhor do gerador, ao irmão da amiga e pedidos constantes para que me ajudassem na EDEL.
Cheguei a casa com o forte sentimento de derrota.
O senhor do gerador chegou, discutimos porque ele dizia que era o disjuntor e eu acusava-os de terem vendido um gerador que não valia nada. Mas lá o deixou ligado. Não funciounou à primeira e a segunda vez já não foi o senhor do gerador, mas o primo quem me socorreu.
Explico ao primo a situação da EDEL e ele numa gargalhada esclarece-me que "aqui não é como em Portugal em que reestabelecem no imediato a energia". Olhei para ele e suspirei. Não tinha palavras para mais uma destas novidades.
Desci do terraço e ganhei coragem para o jantar.
Tomei o banho quente que ansiava e EDEL apareceu minutos depois para reestabelecer a energia.
Foi um dia que acabou bem, com a descoberta de que nem contador de luz tenho apesar de pagar a conta!
Bateu-me no braço. Assustei-me com a agressividade do acto que rapidamente se viu acompanhado das palavras: olha a polícia!
Senti a força de quem estava preocupado, mas fiquei perplexa, o olhar vidrado que não enxergava a autoridade e as mãos controladas embora não parassem de acariciar a máquina como se de um cachorro recém-nascido se tratasse.
Pássavamos uma ponte, o rio corria lindo e a foto estava garantida. Olhei para ele desanimada, como se de facto aquela palmada tivesse sido dada para magoar e não para evitar que me magoassem.
Obviamente entendi que a intenção era proteger-me. As probabilidades de tirar a foto, ser vista pela polícia, ser parada, sermos presos e talvez nunca mais aparecermos eram maiores do que alguma vez eu poderia imaginar.
"Tem sítios aqui em que as autoridades não percebem o que é turismo e desconhecem a palavra férias!", explicou-me.
Fiquei petrificada. Não podia imaginar.
Contou-me o episódio de um amigo que havia sido preso, mas por sorte foi na cidade, onde as pessoas têm mais informação e mais pontes a que recorrer.
Eu não tenho nenhuma. Nenhuma conquistada por mim, directa.
Deixei o rio passar, não o pude gravar pela objectiva, apenas na retina e na memória ficaram os motivos pelos quais levantar uma máquina fotográfica poderá ser embarcar numa viagem sem volta.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.