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A dipanda

por baía azul, em 11.11.11

Aprendi esta noite que hoje é o dia da dipanda.

E o som da palavra ficou a vaguear, sozinho, aguardando por melhor esclarecimento.

Não é preciso ser inteligente para entender que a dipanda está associada à independência, à comemoração do país livre do jugo colonialista.

 

Hoje ouvi um dueto improvável: Carlos do Carmo e Higino Carneiro, no hotel Victoria Garden.

 

Hoje fiz a mala, trabalhei o quanto pude, tomei o pequeno-almoço às 3h30 da manhã, aproveitei a boa-vontade da EDEL.

 

Às 4h30 ponho-me a caminho. Luanda precisa de um descanso meu.

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publicado às 03:18

Paga o justo pelo pecador

por baía azul, em 08.11.11

       (Até agora mil e uma ideias já passaram pela cabeça. Pelo menos 100 questões puseram à roda o meu raciocínio. Até aquele líquido salgado quis dar de si - não deixei!)

 

Tenho vivido dias que demonstram o quão certo é o ditado: "paga o justo pelo pecador". É um lugar-comum, sem dúvida, e tão comum que tem sido a rotina. Cada dia, há uma situação que me prova que estou à prova.

 

Eram 6h da manhã e o espírito estava desperto. Ando há semanas a tentar tratar do bilhete de identidade - um documento que deixou de ser um direito para ser um privilégio e, como todos os privilégios, de difícil acesso.

 

Não tem sido por falta de esforço, as madrugadas têm sido minhas. Agarro-as com paixão e faço-me aos postos de identificação: aos fixos, aos móveis, aos cheios, aos vazios. A todos sem excepção.

 

Nuns não há sistema, mas todos os dias, nas rádios ouvimos, nas televisões vemos, nos outdoors e nos jornais lemos, que é fácil e rápido e ainda por cima é um direito que nos assiste, obter o documento de identificação. Bom, os slogans falam por si, as campanhas andam aí. Mas quem manda é o sistema!

 

Noutros a enchente é tanta que quem nunca tratou de BI também não vai tratar nesse dia.

 

Naqueles em que o sistema manda pouco e a enchente não é a rainha, alguém se lembra de pedir documentos nunca antes pedidos. Desta vez foi a cédula pessoal, outrora votada ao ostracismo e de quando em quando recuperada para levantar constrangimentos.

 

Parecia um filme com um título tão corriqueiro quanto "O drama na cidade capital". A correr de um lado para outro porque tudo o que quero é ter um simples BI.

 

Mas se a tudo isso pudermos juntar o acidente que tive às 7h da manhã, conseguimos entender por que motivo se diz que é nas províncias que se está bem.

 

Ainda não tinha feito 100 metros quando bati no carro da frente à saída de casa. O susto, o stress, a preocupação para saber se estavam todos bem e o estar a empatar o trânsito foram os primeiros pensamentos.

 

A seguir falei com o motorista. Levava crianças. Estavam bem, sorriam e brincavam. O dano material no carro não era nada de preocupante, mas havia que assumir a responsabilidade.

 

Pedi-lhe para ligar à patroa. Expliquei à senhora o que se tinha passado e que teria que ir tratar de uns problemas pessoais e já que o prejuízo era felizmente material voltaria a ligar depois de entrar em contacto com a seguradora. Dei-lhe todos os meus contactos, ficou com a matrícula do carro, com o nome da empresa em que trabalho. Enfim. Fiz o que devia ser feito.

 

Passaram uns bons minutos e a dona do carro volta a ligar. Queria saber se já estava tudo tratado.

Não estava, como tudo na cidade capital, não estava tratado. Teria que esperar.

 

Ligou-me o marido a pedir que eu fosse honesta. Pois mais honesta eu já não podia ser.

Ligou a mulher de novo a perguntar onde eu andava.

Voltou a ligar porque queria ir "já" para a seguradora.

Pedi-lhe alguns minutos, eu tinha ficado sem carro e ela tinha que ter paciência. A ligar-me de 5 em 5 minutos não me estava a ajudar.

Voltou a ligar e agora num tom de ameaça: "a que horas está no escritório? Temos que ir à seguradora! Dê-me os seus dados pessoas. Quero o seu nome completo. Quero os seus documentos!"

 

Eu não podia acreditar. Se eu quisesse fugir atendia todas essas vezes? Enviava o meu cartão de visita? Ligava-lhe a seguir ao acidente a assumir a culpa?

Bom, talvez aqui haja gente capaz de o fazer.

 

Não dei todos os meus dados, apenas o nome. Afinal, ela já o tinha no cartão de visita.

Voltou a ligar: "falei com o meu advogado. Eu tenho que ter toda a sua documentação, da empresa, do carro..."

 

Bom, seria ela a seguradora em pessoa? Claro que não. Mas as pessoas desconhecem as regras e pecam por excesso!

 

Na seguradora resolvi o que tinha a resolver. Liguei-lhe e pedi que me enviasse todos os documentos do carro, do motorista e os do proprietário do carro.

Depois da peritagem liguei-lhe a informar que fosse à oficina e enviasse o orçamento.

Respondeu-me que a desculpasse, pois eu já devia saber como é aqui (na cidade capital).

 

Pois, de facto não sei! Não sei como pude ter sido insultada e pressionada como se de uma criminosa se tratasse.

 

A verdade é que a maior parte dos luandenses não está habituada à seriedade das pessoas e não confia.

A verdade é que a maior parte das pessoas bate e foge. Dá números falsos. Não tem os seguros actualizados, ou nem sequer tem seguro.

Eu sei de tudo isso, mas ainda assim, depois de 10 chamadas todas elas atendidas e com todos os dados em sua posse, a senhora em causa podia ter tornado a minha manhã num martírio menos penoso.

 

Lembro-me dos tempos em que nos orgulhávamos de ter o maior mercado informal a céu aberto de África e temo que desde esse tempo até então o nosso conceito de evolução se mantenha deturpado.

 

Tive um dia difícil, que ainda não acabou.

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publicado às 15:06

Sem travões

por baía azul, em 02.11.11

IMG_20111101_132651.jpg

A hiace perdeu os travoes e passou a fazer parte do monumento. Foi sexta-feira passada.

Localização: A descer a rua do palácio, em direcção à rua da Assembleia, para quem vem do Palmeiras Club.

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publicado às 23:36

Sampourna, o último

por baía azul, em 02.11.11

Vi-o arder na minha mão, estalando a cada brisa de vento que passava. Inalei-o como se se tratasse do último elemento precioso a absorver e o amanhã não chegasse nunca.

Mirei-o e à sua luz vermelha. Pedi que o momento se eternizasse e eu não precisasse de sair mais daqui.

Não foi o prazer de o consumir, mas o prazer de imaginar o tempo parado. O poder de estar aqui, num estado só meu, a desejar que nada mais se movesse.

Claramente não é o vício que mais me apraz. Tive que compensar com o pontche do tio Bituca.

A sensação do depois é de inércia e uma certa náusea. Mas a alma pedia que o  fizesse.

Nos lábios senti o doce do sampourna, o salgado das lágrimas, o doce do pontche, o amargo da alma.

Fiquei o tempo suficiente para as nuvens desvanecerem e darem lugar a um quarto qualquer de lua.

Não sou capaz de me levantar.

Quando o fizer estarei livre… fumei-os todos. Em ocasiões diversas é certo, e fica apenas a certeza de que cada vez que o faço é por motivos que os meus sentimentos não descortinam.

Resta somente a certeza ébria de que esta é a última vez.

Creio que é a tentativa de que algo mude. Não vai acontecer.

Fica a vontade de expurgar hoje para não fazê-lo amanhã. Não vai acontecer.

Os nossos sentimentos movem-nos e nada mais nos pode controlar, por muito egocêntrico que o considere. Sim, é egocêntrico escrevermos constantemente sobre nós e as nossas angústias. É também injusto escrever sobre outra coisa qualquer. Em matéria de sentimento alheio não tenho expertise.

Agarrei num cigarro, num copo e numa varanda e abracei a solidão que esta cidade me causa.

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publicado às 22:09


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