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Pelas minhas viagens, de aqui e de ali vou-me perdendo com a certeza de que no fim da linha me encontrarei. Para quem gosta de aventuras e enigmas pode perder-se e encontrar-se por aqui
Não sou do tempo do recolher obrigatório.
Não sou do tempo do uniforme na escola,nem cheguei a usar bata branca, com pena minha.
Não sou do tempo das boca-de-sino em tirilene (mas de ganag), nem do jimmi (mas arrisquei uma vez).
Não sou do tempo das curitas nas pernas para pousar para a fotografia,
nem tão pouco do namoro no parque com um sorvete na mão, ou da correspondência por carta.
Já namorei por correspondência email - desconfio que não conte.
Não sou do tempo em que as mulheres davam valor aos lavores
mas tive que aprender a bordar e faço péssimas bainhas.
Aprendi a dançar, o mínimo aceitável para me sentir da terra que me viu nascer.
Ainda assim, por graça do destino estou a beber da experiência de quem tudo isso viveu e hoje partilha entre si, deixando que alguma criançada participe.
Honra enorme, eu diria, fazer parte do Baú dos Tempos.
Escolhi ser uma aluna assídua, sendo fiel ao único lema de vida que de facto tenho: sempre a aprender!
Fui obrigada a dar uma gasosa à senhora da polícia que trata da participação de assalto. Ela só tinha que me dar um papel a dizer que estou sem documentos porque fui assaltada.
Mas a senhora estava a comer e era sábado e como tinha muitos processos eu tinha que pagar por tudo isso:
"É sábado vais ter que ajudar"
"Tenho muitos processos, para eu te ajudar vais ter que me ajudar"
Nisto fui tirando os kwanzas da carteira, com aquele sabor amargo na boca de impotência e cedência.
Passou mais de uma semana e documento nada!
Moral da história: se fores assaltado ao fim-de-semana deixa para segunda-feira.
Se há muitos processos à frente espera, não és mais do que ninguém.
A canção perseguiu-me a semana inteira...hoje especialmente faz sentido
e dei conta que não tinha a tag política
... e daquilo que assisto e não compreendo.
Angola está sempre na moda, ou na boca do povo. Cada um entende como preferir. Falámos de guerra, de corrupção, de democracia e ditadura. Este nem sequer é um blog de tricas políticas, mas de sentimentos e sensações. Por isso também encaixa recuperar um artigo de Miguel Esteves Cardoso, numa altura em que toda a gente acredita estar munida de razão e saber e quer corrigir o que de mal vai em Angola.
Aproveito ainda o facto de se aproximar o 4 de Fevereiro
"Já não posso ouvir o José Eduardo Agualusa e todos os outros portugueses e angolanos cá em Portugal que não se cansam de denunciar os desmandos e a corrupção do Governo angolano.
Serviço de despertar: Angola é um país soberano; mais independente do que nós. Tudo o que fizemos em Angola foi para o bem de Portugal, por muito mal (ou bem) que fizesse aos angolanos.
Mesmo assim, o Governo de Angola - e os angolanos em geral - perdoaram-nos, em pouco tempo, a nossa condescendência e a nossa exploração colonial. Os portugueses e angolanos sempre se deram bem, independentemente de quem manda em quem. Gostamos uns dos outros e aprendemos uns com os outros. Somos muito parecidos.
Os regimes políticos dos países mais nossos amigos são como os casamentos dos nossos maiores amigos: não se deve falar deles. Entre marido e mulher, não metas a colher. De resto, não temos voto na matéria. Fomos lá imperadores e perdemos. Portugal também não era uma democracia quando andou por Angola a tratá-la e explorá-la como uma província de Portugal, fazendo tudo para matar quem fosse contra essa exploração.
Angola está a investir em Portugal. É uma chapada de luva branca, misturada com perdão. Por muito que se critique, Angola está a pacificar-se e a democratizar-se muito mais depressa do que Portugal de 1926 a 1976. Não trata Portugal como província ultramarina. Não interfere na nossa política. Imitemo-la nisso, por favor.
Não são só nossos amigos: são superiores a nós."
Miguel Esteves Cardoso
Público,30 Out 2009
Às vezes sinto saudades de tudo. Sei que perdi o chão e assumir a fraqueza de tê-lo perdido, fazendo de conta que há toda uma envolvência que me preenche, tem sido a (má) estratégia. Mas na verdade não pode haver outra.
Por quantas mudanças já passei, sem por isso chorar mais ou menos? Acho no entanto interessante que me digam que é fácil para mim deslocar-me, porque não tenho "anexos" como eu própria costumo definir as pessoas que não têm compromissos de ordem familiar.
Mas tenho uma família de facto, que me criou e dos quais sinto falta e sobremaneira.
Tenho amigos. Amigos que desconhecia nutrirem tamanho carinho por mim.
Tenho pontos de referência. Locais em que pensava e mesmo não indo até lá me faziam sentir eu mesma.
Tenho um buraco angustiante cada vez que olho à minha volta e procuro identificar-me.
É tarde para crises existenciais, mas é necessário tê-las agora e expurgar.
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