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O centro médico - parte ii

por baía azul, em 06.04.12
A senhora é angolana. Sei, não porque seja mulata, mas porque me lembro dela de há uns anos, quando vinha passar as férias às tias.
Perguntou à idosa à sua frente, num tom ingénuo, por que motivo as portuguesas não gostam das noras.
A velhota sorriu e num gracejo disse que "não é só das noras que elas não gostam, das mães e dos pais também não"
Deixaram de falar dos médicos que fazem esperar horas.

Saltaram para um tema que as toca a todas e que de certa maneira receiam que lhes venha a acontecer: chegar a velhinhas e não ter quem cuide delas ou que sejam muito mal cuidadas.
Estavam no fundo a elogiar uma centenária, que todo o tempo esteve calada, aguardando a sua vez e que depois de atendida saiu pelo seu pé, com sorriso na cara, acenando às que ficavam.

Levantaram-se e colocaram-se à janela, apreciando a enérgica idosa dizendo: tem 100 anos.
"deve ser muito bem tratada para estar assim"
A senhora angolana teceu N teorias, que justificam o bom estado da velhota.
Estar num lar o dia todo e ser levada para casa pelos filhos, parece ser receita infalível para chegar tão longe.

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publicado às 23:19

Historieta a meio da tarde

por baía azul, em 05.04.12
Já sentia falta das conversas de posto médico.
Uma sala de espera com pessoas idosas essencialmente e, pelo meio um outro de meia idade, para pintar o quadro
Um centro médico é como um cabeleireiro. Ouvimos o que não nos diz respeito. Critica-se o trabalho de quem não conhecemos e, nos dias bons, ainda surgem os médicos de bancada (tal como os treinadores)
Ocorre-me perguntar o que vêm fazer se de facto sabem qual a solução para o problema de cada um.
São raros os momentos de silêncio numa sala de espera, com gente doente, devo frizar.
Uma história de netos e filhos para aqui, um doente revoltado para ali, criticando as administrativas no guiché (que estão sempre no pêpêpê),  mais um comentário à senhó dotora que nunca chega à horas.
A mim vão dando e tirando sono.
Vejo-me obrigada a fazer comparações. Noutra cidade, a valentes milhas daqui, numa clínica conceituada até os doentes não falam tanto, as enfermeiras e administrativas cuidam da vida delas e dos doentes em alto e bom som.
O barulho vem dos choros de crianças de colo e um outro doente a tentar fazer-se entender na farmácia.
São realidades diferentes e é difícil ver o doente da terra da palanca levantar "um falso" sobre o seu médico

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publicado às 23:17

Jantar À parte

por baía azul, em 04.04.12
Um lugar à parte pode significar muita coisa.
Acima de tudo deve significar prazer quando estamos a falar de coisas boas
O À Parte é um restaurante em Lisboa, no Saldanha, que envolve o cliente de forma tal que o sabor e a visão ficam turvados por tempo indeterminado
Por onde passo vejo o chão preto, em madeira, ansioso por ranger.

As paredes forradas, as mesas e cadeiras cada uma de sua nacionalidade, as janelas transformadas em espelhos, os castiçais antigos convivendo bem com os mais modernos.
Parece a casa da avó, decorada com o que ela gosta, com as prendas dos filhos e dos netos que, gostando ou não, coloca nos móveis para mostrar a utilidade de cada uma.
Uma verdadeira confusão aconchegante.

Se a decoração lembra a casa da avó, a comida não faz desfeita.
Das entradas ao digestivo a viagem convence de que ir e comer é o melhor remédio.
Um simples paté desperta a papilas gustativas, sussurrando surpresas que estão para vir.
Para jantar as escolhas chegam para confundir o gosto, mas fiquei-me pelo lavagante com risoto do mar. A descoberta foi fantástica. 
Com gambas, mexilhões, tomate cherry, sem coentros!
Um copo de vinho tinto Vale da Poupa e uma amiga com boas notícias completam os ingredientes para o jantar perfeito.
Saltámos a sobremesa, apesar da colecção convidar à degustação sem arrependimentos.
Para quem não tem reservas e gosta de estar à parte esta casinha antiga de Lisboa que brincou com o tempo e juntou  o requinte ao bem comer, aproveitando cada detalhe de pedra, de madeira e de chiar, é o local ideal para espantar o seu paladar.

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publicado às 23:14

Os dias de Lisboa

por baía azul, em 03.04.12
Os dias não são iguais, tal e qual os jogos de futebol.
Não me canso de fazer a analogia, primeiro porque é um desporto de que gosto e vibro com o mesmo, segundo porque é o único que de facto compreendo, muito embora não me possa considerar uma expert.
Estes em Lisboa tinham que ser obrigatoriamente diferentes.
Entre almoços e jantares, encontros e reencontros, alegrias e, como sempre, tristezas (para poder animar), passam a correr e deixam no bico o sabor a pouco e a sensação de tão pouco dominar o "meu" tempo.
Corro de manhã, saio quase sem comer, pego no carro (agora no do pai) até à estação de comboio e lá vou eu para o relento esperar mais cinco minutos pelo "pouca terra" que me leva até Lisboa.
Já não contava com esta. Comboio, metro, horário, cancelas, corridas de ficar ofegante minutos, uma mão cheia de novas actividades.
Mas o que me trouxe aqui foi a viagem que faço no momento.
São 23h30. A esta hora já estou a dormir, quando em Luanda.
Em Lisboa também é raro estar no comboio, mas um jantar com uma grande amiga "obriga" ao sacrifício.
Uma chamada durante a viagem também me obrigou a pegar no bloco e a escrever.
Disse ela: vamos almoçar amanhã?
Almoço que tive de negar, pedindo-lhe para marcarmos para outro dia. Dia seguinte aliás, mas que me lembrasse porque facilmente eu sobreporia um novo compromisso.
A resposta foi simples: devias escrever num blog sobre essa tua vida agitada.
Pois bem, estou a fazê-lo, com a certeza de que pouco valem as historietas. Afinal, aventuras todos temos.
Mas reconheço que se hoje já a memória me falha, o ideal é deixar uns escritos para me rir da precoce desconcentração de que sou vítima mais tarde (queria escrever senilidade, mas não sou capaz de a admitir tão cedo).
Cheguei!

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publicado às 23:58

A oportunidade de viver

por baía azul, em 01.04.12
Começar é sempre o que custa mais.
Duvidar (de mim) era uma sensação que poucas vezes me assolava.
Hoje, sinto o confuso que é fazer parte, não fazer parte, tentar fazer e tentar não fazer.
É sempre assim quando tento escrever: baralho todas as minhas ideias; refugio-me em desculpas e, no fundo, perco-me invejando os tranquilos de espírito.

Queria ser mais coerente.

Depois de ontem percebi o quanto tenho ignorado essa coerência, a importância de viver e o medo de morrer.

Ter medo. Será bom ou mau? Sei que envolta na satisfação de, ao ter ido contra o separador da estrada, não ter acontecido nada, ficou o medo de pegar no volante. O medo de não estar atenta.
Ainda oiço o zumbido, o "crash" do retrovisor, o coração a saltar pela boca, a certeza de que algo horrível estava a acontecer! O susto, o susto, o susto.
Cinco segundos depois percebi que a estrelinha lá em cima estava a brilhar, em pleno na sua luz deu-me a oportunidade de estar viva, de não espalhar a tristeza.

Às vezes é assim. Envolta no medo, assolada pela tristeza, mas ciente de que foi dada outra chance.

Dez segundos depois pensei na paixão. Não a canção, mas a sensação. A que tenho sentido e não soube gerir.
O que é sentir afinal?

Sentir é ter o coração fora do lugar, os batimentos acelerados, incertezas somente
A alegria de estar viva, a estranha melancolia também.
É como um castigo, quase tão cruel quanto o de não sentir.

A verdade é que convencida do equilíbrio que estar fora de Luanda me podia causar, pus os pés pelas mãos.
Ao desejar uma segunda oportunidade para corrigir tudo, lembro que a tive ontem, a de me manter viva.

Não posso pedir mais nada, mas anseio por fazê-lo e depois agarrá-lo para nunca mais perder...

É incrível como não nos satisfazemos com a dádiva e queremos sempre mais!

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publicado às 20:10


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