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Pelas minhas viagens, de aqui e de ali vou-me perdendo com a certeza de que no fim da linha me encontrarei. Para quem gosta de aventuras e enigmas pode perder-se e encontrar-se por aqui
Por norma sou de muitas palavras. De sorriso largo, olhar curioso e inquisidor. Um ser convencido de que vai fazer melhor.
Hoje ouvi, deixei falar, absorvi e realizei o medo.
Pareceu-me ter ouvido "vai-te embora".
Nem sou de fantasmas, nem de teorias da conspiração.
Mas eu ouvi "vá-se embora, que a menina não é daqui. Vai enquanto é tempo".
"Para a semana quando perguntar: então a menina? Olha viajou... É isso que quero ouvir".
E entre os recados que deixaram de ser subliminares, vieram os elogios "És demasiado bonita para perder isso".
Talvez tenha sentido medo.
Não posso detalhar a conversa, porque talvez tenha sentido medo, porque ela vinha cheia de recados e olhares penetrantes de alguém com antiguidade suficiente para me fazer entender que tenho a juventude que posso não querer preservar ou posso querer.
Ao optar pela primeira poderei ficar, manter o meu espírito e perceber tarde demais de que devia ter saído.
Ao optar pela primeira poderei sair, manter o meu espírito e viver "junto de pessoas mente aberta como eu".
Ao optar pela segunda poderei ficar, esconder o meu espírito, ser outra pessoa que não eu, mas ajustável e útil para outros fins.
Ao optar pela segunda poderei ficar, esconder o meu espírito, ser outra pessoa que não eu e apagar-me.
Pela primeira vez recebi um recado, com a conclusão clara entre ambas as partes de que o entendi!
"Você é do mundo..." despediu-se!
Quando te conheci odiei-te. Achei-te um ser vazio, cheio de algo sem nada, empertigado. Odiar... Talvez seja demasiado. Simplesmente não gostei do que transparecia, da vaidade que exasperava, da certeza de tudo saber e dominar. Odiei também o momento em que ouvi: "não pensei que fosses tão fixe". Enchi-me de humildade e sorri. Pensei com aquilo a que chamam botões "engraçado alguém pensar que não sou fixe". E, pensei mal. Enchi-me do sentimento errado. Talvez, pela primeira vez, o meu instinto animal estivesse correcto desde o início. Certo de que não haveria mais do que um vazio longo e de tal modo espaçoso que parecia ser gente, alma, corrente, mão e palma. No meu composto de mudança, a minha poesia fez-se de um tu que em tudo era plena fantasia. Desejo louco de notas ensurdecedoras, inconsciência pura, dormência, entrega, ignorância. Um silêncio, um nada, sem metáfora, nem eufemismo, gritar perdido entre o gelo, serpeantear, perder, derrotar
Surpreendi-a esta tarde.
Encontro a porta aberta, o rádio a tocar kuduro numa estação popular e ao longe se ouvia um chiar de limpeza (talvez).
Fui à cozinha, abri o frigorífico, tirei o almoço (já passando da hora de almoço há boas horas), pousei o computador no sofá e ao pousar as chaves no móvel da sala o tilintar das mesmas chamou a sua atenção.
Veio a correr assustada... ufa era só eu!
Voltou aos seus afazeres.
Aproveitei esta chegada surpresa para meter a minha colher de tarefas não previstas.
Na cozinha percebi que no balaio, não muito colorido, nem muito grande, mas com o tamanho ideal para aquele cantinho em cima da pedra, onde coloco os sacos de chá e as cápsulas de café estavam os fósforos e o saca-rolhas. Dou então conta que os pacotes tinham algo estranho. A minha Gina vai enchendo o balaio, usando-o como depósito das coisas que ela não sabe onde colocar, mas em momento algum levanta as coisinhas ou o próprio balaio para limpar a zona onde ele fica.
Naquele lugarzinho foi-se criando o caruncho, por baixo do balaio, de fundo meio roxo, a querer caminhar para preto.
Distraída como é, a Gina também deixa, sempre que é dia de passar por casa, a luz da casa-de-banho acesa. A minha curiosidade, no entanto, chegava sempre depois da hora de saída dela, até hoje, dia em que lhe pergunto afinal por que motivo a luz fica sempre acesa.
É como se fosse o sinal: passei por cá.
Mas eu sei que passaste, deixo nem que seja um garfo por lavar e encontro-o lavado quando passas, por isso não entendo. Sendo a luz um bem que se paga, fez-me maior confusão.
"Gina, deixa sempre a luz acesa, porquê?"
"Porque sei que a senhora chega sempre tarde, já está escuro e assim pelo menos tem já a luz".
Ora, faz sentido!
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