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Pelas minhas viagens, de aqui e de ali vou-me perdendo com a certeza de que no fim da linha me encontrarei. Para quem gosta de aventuras e enigmas pode perder-se e encontrar-se por aqui
Depois de ver um vídeo postado nesse famoso local público chamado Facebook, com Lesliana Pereira e Leila Lopes em entrevista no programa do Jô Soares, sinto-me obrigada a escrever algumas linhas, fazendo correcções às afirmações de ambas nessa entrevista.
Confesso que não fui capaz de ver o vídeo até ao fim. Parei nas divagações sobre o que é o semba, sobre o que significa muxima.
Porquê? Muito simples, como angolana procurei um lugar para me enterrar.
Neste vídeo teria sido fantástico se as entrevistadas em causa tivessem sabido explicar o que é o semba.
De uma forma muito simples, sem grandes pesquisas o semba é muita coisa, mas não é introspectivo e foi do semba, há muitos séculos, que nasceu o samba.
Semba significa umbigada, uma dança angolana do interior caracterizada por movimentos que implicam o encontro do corpo do homem com o da mulher: o cavalheiro segura a senhora pela cintura e puxa-a para si provocando um choque entre os dois (semba).
Jomo explica que o semba actual (género musical), é resultado de um processo complexo de fusão e transposição, sobretudo da guitarra, de segmentos rítmicos diversos, assentes fundamentalmente na percussão, o elemento base das culturas africanas*.
Sobre os instrumentos, Leila Lopes, não tendo sido exacta, fez-lhes alguma justiça. Mencionou que o semba tem muito instrumentos.
O semba é um dos géneros mais populares da música de Angola e nomes como Carlos Burity, Paulo Flores, Banda Maravilha, Elias Dia Kimuezu ou Bonga não são fáceis de esquecer, mas há muitos outros.
Mais um reparo a esta entrevista que não mostrou aos brasileiros o quão rica é a cultura angolana, nem quanto os angolanos a conseguem dominar: não saber explicar o que é muxima.
Somos muitos a dizer a palavra, mas poucos sabemos o que ela quer dizer.
Muxima é a palavra em kimbundu para coração.
Existe uma vila, no município da Kissama, cujo nome é Muxima. Nessa vila está a nossa Senhora da Muxima, muito venerada pelos fiéis. À semelhança de Fátima, em Portugal, é um local de devoção e que a dada altura do ano chama a si muitos peregrinos.
Mas o essencial a reter é que muxima, que também já foi cantada, é coração. Por isso o que tem amor vem do fundo da muxima.
Alguém colocou nesse post do Facebook exactamente isto: "É um pouco triste que as pessoas que são escolhidas para representarem o país não tenham "know how". Mas pior do que ignorância e risinhos são aquelas pessoas que votam na beleza no lugar de votar num pacote mais completo".
Não há pacote completo? Não posso sequer acreditar nisso. Apesar de pensar que as belas e inteligentes não partilham os mesmos locais, nem as mesmas competições.
O que posso lamentar é que desta entrevista não ficou o importante. Provavelmente poucos fizeram a leitura de que as beldades que representam Angola mundo fora muitas vezes não conhecem a dimensão do país que representam, deixando de fora detalhes que nos definem como povo, mais alegre que introspectivo.
O vídeo em questão
E já agora, o poema do semba, cantado por carlos Burity e Paulo Flores
O Semba Semba é canto de avenida
É chuva de primavera
Semba é morte Semba é vida
O Semba Semba é o meu choro dolente
Olhar nossa vida de frente
Semba é suor Semba é gente
O canto do Semba o canto do Semba ele é nobre
O canto do Semba ele é rico o canto do Semba ele é pobre
O canto do Semba ele é rico o canto do Semba ele é pobre
O Semba no morro Semba no morro é fogueira
O Semba que traz liberdade o Semba da nossa bandeira
O Semba que traz liberdade o Semba da nossa bandeira
O Semba, Semba é kanuco de rua
Na escola da vida ele cresce de tanto apanhar se habitua
Na escola da vida ele cresce de tanto apanhar se habitua
A voz do meu Semba a voz do meu Semba urbano
É a voz que me faz suportar o orgulho em ser Angolano
É a voz que me faz suportar o orgulho em ser Angolano
*pesquisas na web têm maioritariamente esta definição e referem Jomo como autor da mesma.
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