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O (bom) recado de hoje

por baía azul, em 31.07.13

"Os olhos da nossa memória vêem melhor que os nossos próprios olhos"

...pior quando não vêem

 

Citação retirada de uma qualquer estação de metro...dessas cheias de sabedoria

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publicado às 21:11

Reacções

por baía azul, em 02.09.12

Elogiar o comportamento dos eleitores é como elogiar filho que passou de ano. Parece-me que não fez mais do que a sua obrigação

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publicado às 12:42

No teu último adeus trato-te por tu

por baía azul, em 08.07.12

Um dia disseste que te tratasse por tu.

Para mim não fazia muito sentido. És minha tia e eu não podia tratar-te por tu, por causa daquela educação que eu tive, aquela questão do respeito.

 

Tia, hoje trato-te por tu como teu último desejo.

Pelo menos hoje faço algo que te fazia feliz.

Não o fiz em vida porque também me disseste que se eu não era capaz tu irias entender e só querias que eu estivesse à vontade contigo. E estava.

Estava tanto que te pedi na última conversa que tivemos que não desistisses. Que lutasses por nós.

Disseste que já estávamos criados.

Que tinhas orgulho em todos nós. Estavas orgulhosa dos teus filhos e de nós, que não sendo teus filhos trataste como tal.

Dividiste tudo o que tinhas. O amor, os ralhetes, as roupas, os brinquedos, os natais, os almoços, os lanches.

Dividiste as preocupações, as alegrias.

E no final de todos estes anos não ganhaste a batalha contigo mesma. Disseste-me, olhando-me nos olhos que já não eras capaz, que já estava tudo feito, logo mais nada tinhas para fazer por cá.

Tinhas sim tia.

Tinhas tanta coisa para ver, tantos abraços para dar. Netos, sobrinhos netos, sucessos. Tinhas tudo o que cabe hoje no vazio que deixas.

Mas talvez isso não chegasse e eu não sou ninguém para te julgar e de uma forma egoísta perguntar-me porquê que não lutaste só mais um bocadinho.

Deixaste apenas que te visse mais uma vez, que cozinhasse para ti, que me preocupasse. Nos teus olhos não vi o brilho, na tua face não vi o sorriso. Mas ainda assim o meu coração dizia que ias enfrentar, que desta vez ias enfrentar.

 

No teu último adeus eu agradeço a mãe que foste para mim.

As conversas que tivemos, infindáveis, divertidas, envoltas em lágrimas toda a vez que eu "ralhava" contigo, as confidências que me fizeste, os conselhos que deste. Agradeço a amiga que sempre tentaste ser e foste, muitas vezes foste.

Não foste perfeita.

Ninguém é. Eu não te queria perfeita. Queria-te aqui, connosco. Queríamos-te aqui ao nosso lado, a rir como antes, a preparar-nos o almoço, a vestir-nos as camisolas e a obrigar-nos a calçar as galochas.

Isso foi há um tempo muito atrás, mas não apago da memória o dia em que me disseste: "esta é a tua casa também, quero que te sintas bem filha".

Eu tinha chegado de longe e tinha uma dor que tu compreendias e com o teu silêncio e os teus actos ias tentando fazer sarar.

 

Hoje digo-te adeus, aqui de tão longe. Sem poder tocar-te pela última vez e abraçar os meus irmãos aos quais docemente impuseste esse parentesco tão próximo e que nós facilmente aceitámos, até hoje.

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publicado às 14:56

Um tal jeito de cacimbo

por baía azul, em 06.06.12

Há uns dias que rio sozinha.

Parada a pensar na lógica das coisas, aquela que não existe, mas só à procura de um fio condutor que permita que eu demore mais algum tempo a chegar à loucura.

Dei comigo a pensar em bricolage e costura.

Dei comigo a ignorar todas as práticas que me obrigavam a questionar. Ou seja, deixei de questionar.

Rio-me sozinha pelo efeito que a vida tem nas pessoas, tem em mim.

Parar de rir, parei eu mesma.

Espanto.

Está menos calor, há uma brisa, há cinema, há exposições, há teatro e há paixões!

Há uma cidade atrevida, arrojada, descabida e desiquilibrada. Despeitada e desrespeitada.

Há um sentido crítico, uma vontade de vencer e um espírito vencido!

Rir?

Rir é só a forma fácil de passar ao lado e fazer de conta que amanhã é outro dia.

Não. Amanhã não é outro dia. Amanhã é um dia igual ao de hoje. Nenhum de nós, ou eu principalmente, fez para que fosse diferente.

Mas as coisas estão aí. À mão de semear, bem perto de mudar.

Só eu não movo palhas, só eu bloqueio, como as nuvens bloqueiam o sol em estado de cacimbo.

Só eu arrefeço a alma.

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publicado às 19:22

A oportunidade de viver

por baía azul, em 01.04.12
Começar é sempre o que custa mais.
Duvidar (de mim) era uma sensação que poucas vezes me assolava.
Hoje, sinto o confuso que é fazer parte, não fazer parte, tentar fazer e tentar não fazer.
É sempre assim quando tento escrever: baralho todas as minhas ideias; refugio-me em desculpas e, no fundo, perco-me invejando os tranquilos de espírito.

Queria ser mais coerente.

Depois de ontem percebi o quanto tenho ignorado essa coerência, a importância de viver e o medo de morrer.

Ter medo. Será bom ou mau? Sei que envolta na satisfação de, ao ter ido contra o separador da estrada, não ter acontecido nada, ficou o medo de pegar no volante. O medo de não estar atenta.
Ainda oiço o zumbido, o "crash" do retrovisor, o coração a saltar pela boca, a certeza de que algo horrível estava a acontecer! O susto, o susto, o susto.
Cinco segundos depois percebi que a estrelinha lá em cima estava a brilhar, em pleno na sua luz deu-me a oportunidade de estar viva, de não espalhar a tristeza.

Às vezes é assim. Envolta no medo, assolada pela tristeza, mas ciente de que foi dada outra chance.

Dez segundos depois pensei na paixão. Não a canção, mas a sensação. A que tenho sentido e não soube gerir.
O que é sentir afinal?

Sentir é ter o coração fora do lugar, os batimentos acelerados, incertezas somente
A alegria de estar viva, a estranha melancolia também.
É como um castigo, quase tão cruel quanto o de não sentir.

A verdade é que convencida do equilíbrio que estar fora de Luanda me podia causar, pus os pés pelas mãos.
Ao desejar uma segunda oportunidade para corrigir tudo, lembro que a tive ontem, a de me manter viva.

Não posso pedir mais nada, mas anseio por fazê-lo e depois agarrá-lo para nunca mais perder...

É incrível como não nos satisfazemos com a dádiva e queremos sempre mais!

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publicado às 20:10

(a)tentar

por baía azul, em 02.02.12

Às vezes sinto saudades de tudo. Sei que perdi o chão e assumir a fraqueza de tê-lo perdido, fazendo de conta que há toda uma envolvência que me preenche, tem sido a (má) estratégia. Mas na verdade não pode haver outra.

Por quantas mudanças já passei, sem por isso chorar mais ou menos? Acho no entanto interessante que me digam que é fácil para mim deslocar-me, porque não tenho "anexos" como eu própria costumo definir as pessoas que não têm compromissos de ordem familiar.

Mas tenho uma família de facto, que me criou e dos quais sinto falta e sobremaneira.

Tenho amigos. Amigos que desconhecia nutrirem tamanho carinho por mim.

Tenho pontos de referência. Locais em que pensava e mesmo não indo até lá me faziam sentir eu mesma.

Tenho um buraco angustiante cada vez que olho à minha volta e procuro identificar-me.

É tarde para crises existenciais, mas é necessário tê-las agora e expurgar.

 

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publicado às 01:07

A dipanda

por baía azul, em 11.11.11

Aprendi esta noite que hoje é o dia da dipanda.

E o som da palavra ficou a vaguear, sozinho, aguardando por melhor esclarecimento.

Não é preciso ser inteligente para entender que a dipanda está associada à independência, à comemoração do país livre do jugo colonialista.

 

Hoje ouvi um dueto improvável: Carlos do Carmo e Higino Carneiro, no hotel Victoria Garden.

 

Hoje fiz a mala, trabalhei o quanto pude, tomei o pequeno-almoço às 3h30 da manhã, aproveitei a boa-vontade da EDEL.

 

Às 4h30 ponho-me a caminho. Luanda precisa de um descanso meu.

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publicado às 03:18

Paga o justo pelo pecador

por baía azul, em 08.11.11

       (Até agora mil e uma ideias já passaram pela cabeça. Pelo menos 100 questões puseram à roda o meu raciocínio. Até aquele líquido salgado quis dar de si - não deixei!)

 

Tenho vivido dias que demonstram o quão certo é o ditado: "paga o justo pelo pecador". É um lugar-comum, sem dúvida, e tão comum que tem sido a rotina. Cada dia, há uma situação que me prova que estou à prova.

 

Eram 6h da manhã e o espírito estava desperto. Ando há semanas a tentar tratar do bilhete de identidade - um documento que deixou de ser um direito para ser um privilégio e, como todos os privilégios, de difícil acesso.

 

Não tem sido por falta de esforço, as madrugadas têm sido minhas. Agarro-as com paixão e faço-me aos postos de identificação: aos fixos, aos móveis, aos cheios, aos vazios. A todos sem excepção.

 

Nuns não há sistema, mas todos os dias, nas rádios ouvimos, nas televisões vemos, nos outdoors e nos jornais lemos, que é fácil e rápido e ainda por cima é um direito que nos assiste, obter o documento de identificação. Bom, os slogans falam por si, as campanhas andam aí. Mas quem manda é o sistema!

 

Noutros a enchente é tanta que quem nunca tratou de BI também não vai tratar nesse dia.

 

Naqueles em que o sistema manda pouco e a enchente não é a rainha, alguém se lembra de pedir documentos nunca antes pedidos. Desta vez foi a cédula pessoal, outrora votada ao ostracismo e de quando em quando recuperada para levantar constrangimentos.

 

Parecia um filme com um título tão corriqueiro quanto "O drama na cidade capital". A correr de um lado para outro porque tudo o que quero é ter um simples BI.

 

Mas se a tudo isso pudermos juntar o acidente que tive às 7h da manhã, conseguimos entender por que motivo se diz que é nas províncias que se está bem.

 

Ainda não tinha feito 100 metros quando bati no carro da frente à saída de casa. O susto, o stress, a preocupação para saber se estavam todos bem e o estar a empatar o trânsito foram os primeiros pensamentos.

 

A seguir falei com o motorista. Levava crianças. Estavam bem, sorriam e brincavam. O dano material no carro não era nada de preocupante, mas havia que assumir a responsabilidade.

 

Pedi-lhe para ligar à patroa. Expliquei à senhora o que se tinha passado e que teria que ir tratar de uns problemas pessoais e já que o prejuízo era felizmente material voltaria a ligar depois de entrar em contacto com a seguradora. Dei-lhe todos os meus contactos, ficou com a matrícula do carro, com o nome da empresa em que trabalho. Enfim. Fiz o que devia ser feito.

 

Passaram uns bons minutos e a dona do carro volta a ligar. Queria saber se já estava tudo tratado.

Não estava, como tudo na cidade capital, não estava tratado. Teria que esperar.

 

Ligou-me o marido a pedir que eu fosse honesta. Pois mais honesta eu já não podia ser.

Ligou a mulher de novo a perguntar onde eu andava.

Voltou a ligar porque queria ir "já" para a seguradora.

Pedi-lhe alguns minutos, eu tinha ficado sem carro e ela tinha que ter paciência. A ligar-me de 5 em 5 minutos não me estava a ajudar.

Voltou a ligar e agora num tom de ameaça: "a que horas está no escritório? Temos que ir à seguradora! Dê-me os seus dados pessoas. Quero o seu nome completo. Quero os seus documentos!"

 

Eu não podia acreditar. Se eu quisesse fugir atendia todas essas vezes? Enviava o meu cartão de visita? Ligava-lhe a seguir ao acidente a assumir a culpa?

Bom, talvez aqui haja gente capaz de o fazer.

 

Não dei todos os meus dados, apenas o nome. Afinal, ela já o tinha no cartão de visita.

Voltou a ligar: "falei com o meu advogado. Eu tenho que ter toda a sua documentação, da empresa, do carro..."

 

Bom, seria ela a seguradora em pessoa? Claro que não. Mas as pessoas desconhecem as regras e pecam por excesso!

 

Na seguradora resolvi o que tinha a resolver. Liguei-lhe e pedi que me enviasse todos os documentos do carro, do motorista e os do proprietário do carro.

Depois da peritagem liguei-lhe a informar que fosse à oficina e enviasse o orçamento.

Respondeu-me que a desculpasse, pois eu já devia saber como é aqui (na cidade capital).

 

Pois, de facto não sei! Não sei como pude ter sido insultada e pressionada como se de uma criminosa se tratasse.

 

A verdade é que a maior parte dos luandenses não está habituada à seriedade das pessoas e não confia.

A verdade é que a maior parte das pessoas bate e foge. Dá números falsos. Não tem os seguros actualizados, ou nem sequer tem seguro.

Eu sei de tudo isso, mas ainda assim, depois de 10 chamadas todas elas atendidas e com todos os dados em sua posse, a senhora em causa podia ter tornado a minha manhã num martírio menos penoso.

 

Lembro-me dos tempos em que nos orgulhávamos de ter o maior mercado informal a céu aberto de África e temo que desde esse tempo até então o nosso conceito de evolução se mantenha deturpado.

 

Tive um dia difícil, que ainda não acabou.

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publicado às 15:06

Sampourna, o último

por baía azul, em 02.11.11

Vi-o arder na minha mão, estalando a cada brisa de vento que passava. Inalei-o como se se tratasse do último elemento precioso a absorver e o amanhã não chegasse nunca.

Mirei-o e à sua luz vermelha. Pedi que o momento se eternizasse e eu não precisasse de sair mais daqui.

Não foi o prazer de o consumir, mas o prazer de imaginar o tempo parado. O poder de estar aqui, num estado só meu, a desejar que nada mais se movesse.

Claramente não é o vício que mais me apraz. Tive que compensar com o pontche do tio Bituca.

A sensação do depois é de inércia e uma certa náusea. Mas a alma pedia que o  fizesse.

Nos lábios senti o doce do sampourna, o salgado das lágrimas, o doce do pontche, o amargo da alma.

Fiquei o tempo suficiente para as nuvens desvanecerem e darem lugar a um quarto qualquer de lua.

Não sou capaz de me levantar.

Quando o fizer estarei livre… fumei-os todos. Em ocasiões diversas é certo, e fica apenas a certeza de que cada vez que o faço é por motivos que os meus sentimentos não descortinam.

Resta somente a certeza ébria de que esta é a última vez.

Creio que é a tentativa de que algo mude. Não vai acontecer.

Fica a vontade de expurgar hoje para não fazê-lo amanhã. Não vai acontecer.

Os nossos sentimentos movem-nos e nada mais nos pode controlar, por muito egocêntrico que o considere. Sim, é egocêntrico escrevermos constantemente sobre nós e as nossas angústias. É também injusto escrever sobre outra coisa qualquer. Em matéria de sentimento alheio não tenho expertise.

Agarrei num cigarro, num copo e numa varanda e abracei a solidão que esta cidade me causa.

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publicado às 22:09


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