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Pelas minhas viagens, de aqui e de ali vou-me perdendo com a certeza de que no fim da linha me encontrarei. Para quem gosta de aventuras e enigmas pode perder-se e encontrar-se por aqui
Primeiro estranha-se, depois entranha-se... ou melhor, aceita-se.
Confesso que a primeira reacção foi de estupefacção.
Não podia acreditar que à porta do Museu de Arte de Filadélfia está a estátua de uma figura que não passa de um personagem de cinema.
O Rocky dá as boas-vindas a quem vai visitar os Jardins do Oriente, Picasso ou uma colecção de surrealistas.
Às vezes, vi eu, os turistas nem chegam a entrar no museu. Limitam-se à fotografia com o Rocky e seguem caminho. Nem aproveitam para subir as escadas, tão longas assim, e fotografar o belo skyline que se desenha à entrada do museu.
Mas nem é isso que me preocupa. Preocupa-me o facto de que em muito pouco tempo serão muitos os que vão acreditar que o Rocky era um herói de Filadélfia e não um simples personagem de um filme protagonizado pelo Sylvester Stallone.
E não, não vi nenhuma estátua ao Bruce Springsteen. Estranho!
Bateu-me no braço. Assustei-me com a agressividade do acto que rapidamente se viu acompanhado das palavras: olha a polícia!
Senti a força de quem estava preocupado, mas fiquei perplexa, o olhar vidrado que não enxergava a autoridade e as mãos controladas embora não parassem de acariciar a máquina como se de um cachorro recém-nascido se tratasse.
Pássavamos uma ponte, o rio corria lindo e a foto estava garantida. Olhei para ele desanimada, como se de facto aquela palmada tivesse sido dada para magoar e não para evitar que me magoassem.
Obviamente entendi que a intenção era proteger-me. As probabilidades de tirar a foto, ser vista pela polícia, ser parada, sermos presos e talvez nunca mais aparecermos eram maiores do que alguma vez eu poderia imaginar.
"Tem sítios aqui em que as autoridades não percebem o que é turismo e desconhecem a palavra férias!", explicou-me.
Fiquei petrificada. Não podia imaginar.
Contou-me o episódio de um amigo que havia sido preso, mas por sorte foi na cidade, onde as pessoas têm mais informação e mais pontes a que recorrer.
Eu não tenho nenhuma. Nenhuma conquistada por mim, directa.
Deixei o rio passar, não o pude gravar pela objectiva, apenas na retina e na memória ficaram os motivos pelos quais levantar uma máquina fotográfica poderá ser embarcar numa viagem sem volta.
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